
Deveremos chamar masturbação ou manipulação dos órgãos sexuais? Se por um lado o acto não se acompanha, nesta idade, de fantasias sexuais, por outro é inegável que a criança tem um prazer próximo do orgasmo.Estas e outras situações causam apreensão e são confundidas com doenças (como convulsões) suscitando embaraços e vergonhas. As crianças masturbam-se. Sobretudo a partir dos três anos. E fazem-no porque a exploração do corpo leva-as a descobrir uma experimentação nova e que, ainda por cima, dá prazer. Aliás, descrevem o que sentem como «um choque eléctrico muito bom», «uma coisa boa que arrepia» ou frases similares.A masturbação é um comportamento normal e como tal deve ser encarado. Associá-la a algo lascivo ou malévolo é transportar para a infância as leituras tortuosas dos adultos e a prova de que as crianças não têm qualquer sentimento «menos próprio» é que o fazem à frente de toda a gente.Se os pais não deixarem, muitas vezes por excesso de zelo, a criança passar pelas fases normais – que aparecem e desaparecem de repente –, irão perturbar a sua sexualidade e a definição clara do seu sexo, género e a sua visão da dos outros. Esta falta de definição pode conduzir a ambiguidade comportamental (rapazes efeminados ou raparigas masculinizadas), ou então a exagero compensatório na sua identificação (rapazes machões e raparigas demasiadamente «donzelas»).A atitude dos pais deve ser de respeito e sem emitir qualquer juízo de valor. Se se fizer um bicho-de-sete--cabeças, pode até ser que a criança deixe de se masturbar, mas ter-se-á inserido um componente anómalo no percurso normal da sexualidade, podendo mais tarde essa bomba-relógio rebentar de um modo estranho e a desoras. Remeter a sexualidade infantil e respectivos comportamentos para o domínio da vergonha é errado e pode ter consequências indesejáveis.No entanto, é bom passar a mensagem de que há comportamentos que requerem intimidade e privacidade. Numa conversa a sós, fora de um episódio, é bom dizer que os órgãos genitais são sensíveis e que esfregá-los pode causar dor ou lesão, e que assim como não se anda nu na rua ou até na praia, também a manipulação dos órgãos genitais deve ser um assunto íntimo e que não deve ter lugar em frente das outras pessoas. Como a sexualidade infantil foi negada durante muito tempo, a normalidade da masturbação nesta idade ainda custa muito a aceitar como algo de saudável. Desde a criança estar possuída até epilepsia, ouve-se de tudo. Se por alguma razão o comportamento se torna francamente obsessivo, acontece em qualquer local (designadamente fora de casa) ou não se reduz com a passagem dos meses, pode haver algum trauma a esclarecer e a intervenção de um psicólogo será o primeiro passo a dar.
Publicado:Pais e Filhos
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