
A infertilidade é um dos maiores receios das mulheres que querem adiar a gravidez. A doença pode já existir, mas sendo descoberta mais tarde, as probabilidades de sucesso de tratamento diminuem. Além disso, com o avançar da idade a fertilidade desce. «Os estudos mostram que a taxa natural de concepção é máxima entre os 22 e os 30 anos», esclarece Mário de Sousa. O investigador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e do serviço de genética da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto sublinha, no entanto, que, depois desta idade, «a fertilidade diminui, mas não é impossível engravidar». O decréscimo acontece porque a mulher já nasce com toda a sua reserva ovárica, que se vai gastando ao longo dos anos. Segundo um estudo recente, aos 30 anos, uma mulher já só tem 12 por cento do número de óvulos com que nasceu. O envelhecimento dos óvulos é outro obstáculo para uma mulher que queira ser mãe depois dos 35 anos, como explica Mário de Sousa: «Ao contrário do testículo, onde as células germinais são de novo produzidas, nos ovários, a mulher já nasce com todos os folículos primordiais, que apenas crescem todos os meses durante o ciclo menstrual. Ou seja, os ovócitos que crescem num determinado mês já estavam parados no ovário desde o nascimento. Portanto, têm a mesma idade da mulher. Este tempo parado dá origem a erros genéticos e anomalias morfológicas que comprometem a qualidade dos ovócitos». Por isso, sobem a probabilidades de aneuploidias – alterações no número de cromossomas causadas por erros nas divisões celulares – que dão origem às trissomias. O risco de ter um bebé com trissomia 21, por exemplo, é de uma em cada 250 gravidezes aos 30 anos e de uma em cada 100 gravidezes aos 40 anos. As mulheres que engravidam depois dos 35 anos têm também mais riscos de ter uma diabetes gestacional ou hipertensão, doenças que podem ser graves. Mas, como desdramatiza Luís Graça, a maior parte das mulheres que têm filhos depois dessa idade não têm qualquer problema. O presidente do Colégio de Obstetrícia e Ginecologia da Ordem dos Médicos faz uma analogia com a velocidade de condução: «Se andarmos a mais de 120 quilómetros por hora não é certo que vamos ter um acidente, mas à medida que aumentamos a velocidade as probabilidades de despiste aumentam. O mesmo se passa com a idade materna, os riscos vão aumentando progressivamente».
AMNIOCENTESE
«A partir dos 35 anos deve ser oferecido à mulher um método de diagnóstico, como a amniocentese ou a biopsia das vilosidades coriónicas, e não um método de rastreio. Além de todos os esclarecimentos sobre cada método», defende Luís Graça, presidente do Colégio de Obstetrícia e Ginecologia da Ordem dos Médicos. «O rastreio dá-nos a noção global do risco, o diagnóstico dá-nos a certeza de existir ou não uma doença», explica. Com a agravante de que os falsos negativos no rastreio pré-natal aumentam com a idade, uma vez que este teste apenas estabelece fronteiras de risco, que estão muito bem determinadas para mulheres jovens. No caso das mulheres mais velhas, a base de dados existente ainda não é suficiente para afinar os critérios. «Aos 40 anos, por exemplo, a probabilidade de um rastreio ser falso negativo ultrapassa os 10 por cento», No entanto, a opção de fazer ou não a amniocentese ou a biopsia das vilosidades coriónicas deverá ser do casal, já que ambas as técnicas têm alguns riscos.
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